Maria do Carmo Pontes é olindense, tem 44 anos e há vinte e dois trabalha no ensino público. Iniciou sua carreira no magistério, mas seu desejo maior era poder mudar a vida daqueles que não estavam na escola: Havia aqueles que não puderam terminar os estudos e aqueles que sequer iniciaram. Mais do que um desafio, educar o cidadão brasileiro, tão castigado em sua condição de trabalhador na luta pela sobrevivência, a professora enxergou o dever de contribuir para o crescimento da sociedade enquanto cidadã irradiadora de conhecimento.
Doutoranda pela Universidad del País Basco em Educação de Jovens e Adultos, Maria do Carmo é uma pedagoga que se especializou no ensino de uma parcela da sociedade que se encontra fora da faixa etária escolar, que não teve a oportunidade de terminar ou mesmo iniciar seus estudos.
"O grande problema do Brasil são as disparidades entre ricos e pobres. Esta desigualdade na distribuição de renda influencia na distribuição de oportunidades que deveriam ser iguais para todos. E aí é que a população pobre encontra-se em desvantagem principalmente ao se tratar de jovens e adultos. Há um contingente enorme de pessoas que tiveram de trabalhar cedo para garantir o sustento da família. Infelizmente, este tipo de situação gera uma bola de neve, que se não for tratada com atenção, só tende a aumentar", diz a profissional, atualmente do quadro de professores do ISEAD/UVA e da rede municipal da cidade de Olinda, Pernambuco.
O desafio imposto para a EJA nos tempos atuais se constitui em reconhecer o direito do jovem e do adulto de serem sujeitos, buscando novas metodologias, investindo na formação de professores e renovando os currículos. "Quem ensina esta parcela da população praticamente mata um leão por dia. Você tem que estimulá-los, descobrir maneiras agradáveis e criativas de passar o conteúdo. Estamos lidando com trabalhadores, que depois de um dia inteiro de atividades, ainda têm mais um turno ao chegar em casa, desdobrando-se para se doar à família. Então, é fácil encontrar casos de desistência por conta das cobranças naturais da vida. Por isso nós educadores temos um papel fundamental ao inovar e propor novos métodos para torná-los conscientes da importância de adquirir conhecimento", Revela a professora.
Avaliando seus vinte e dois anos de luta junto às comunidades por onde passou, Maria do Carmo acaba de lançar o livro "Uma Prosa com a Educação de Jovens e Adultos", onde relata a sua experiência, além de discutir o papel do educador neste segmento. Tudo isto escrito em versos. "Cresci numa família bastante musical. Temos uma queda pela poesia e pela melodia. Por isso que eu sempre encontrei um jeito de trazer este apelo mais artístico para a sala de aula. A arte consegue ampliar o espaço da nossa mente e deixar tudo mais leve e fácil de ser aprendido. Sem falar que a gente sempre encontra alguém na mesma sintonia, contagiando os demais. E isto não tem preço.
Quando perguntada por que sempre se dedicou à esta modalidade de ensino, a pedagoga é enfática: "Sem acesso ao conhecimento, não há desenvolvimento em canto nenhum. Vi bastante coisa ser feita para quem está na idade escolar, mas e quanto a quem esteve fora da escola por tantos anos? É como se estas pessoas não existissem. Você as vê, mas elas não dispõem das mesmas chances que você possui para evoluir como indivíduo e profissional. É preciso dar a chance de uma existência social para elas, e esta é a função da educação."
Maria do Carmo afirma que sempre enxergou a educação numa concepção democrática, libertadora e conscientizadora. Sua incursão pela EJA se iniciou em 1985, com sua primeira turma de alfabetização de adultos. "Tive a oportunidade de conhecer histórias de vida que contribuíram muito ao meu desenvolvimento pessoal. Experiências que me fizeram enxergar o sentido amplo e irrestrito do ato de educar. É libertador compartilhar da vitória daquelas pessoas que olham para o mundo de outra forma após ler e escrever pela primeira vez. Sinto-me realizada como professora.
Grande admiradora e seguidora confessa da ótica de Paulo Freire, a pedagoga tomou para si a missão de mergulhar na realidade de seus alunos para estimulá-los e fazer aflorar aquilo que eles nem sabiam que possuíam: "Ao assumir uma postura de igual para igual e ouvindo meus estudantes, conseguimos estabelecer um diálogo saudável e mais eficiente do que se eu estivesse apenas na posição de emissora da informação. Aprendemos uns com os outros." A cultura popular do estado aliada aos ensinamentos de Freire lhe deu a inspiração para contar sua história. Quando perguntada sobre seus próximos planos, Maria do Carmo responde com a certeza daqueles que amam o seu ofício: "Continuar semeando."
"Educar é sinônimo de reinventar
De semear pra amanhã brotar
De encantar, de cantar e transformar
De renascer fazendo a alma crescer.
Aos jovens e adultos do sertão
Expresso aqui toda minha emoção
Povo que vive em eterna construção
Do direito de ser cidadãos."
- Maria do Carmo da Silva Pontes
Confira o nosso bate papo em vídeo e assista a uma performance da professora em voz e violão, no ISEAD TV!
Um comentário:
Grande iniciativa! Amei! Também acredito que educar é uma ato de amor! Confira o meu blog sobre a EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS :
http://serejaseculoxxi.blogspot.com.br/ bEIJOS.
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